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No balanço da Sacizada – Diane Valdez

Um jornal para crianças! Christie Queiroz, gente de criatividade plena, está editando o “Jornalzinho da Turma do Cabeça Oca”, que vai para as escolas. Essa edição, a página de literatura é de minha autoria, um bando de Sacis se encontram na Vila Esperança… O que fazem? Só lendo! Além do impresso, vai uma versão maior que não coube inteira na página do Cabeça Oca!
Brigadão Christie! Cê é um lindão! Ilustrado pelo super querido Thiago Dornelas!

No balanço da Sacizada 
Diane Valdez

E a Vila Esperança se pintou de Sacis!!
A Sacizada chegou com as primeiras chuvas de outubro. Chegou para valer, junto com os cajuzinhos e as gabirobas.
Sacis quando saem das garrafas, ficam se achando!
Saltam cedo da cama! Mal escovam os dentes, tiram remela dos olhos, metem um gorro na cabeça, pegam o pito, engolem pão com manteiga e começam a aprontar!
Ontem mesmo tinha mais de cinquenta Sacis sentados em roda. Bem ali no Quilombo!
Eu vi! Não só vi como escutei a Sacizada na maior prosa, como se fosse a coisa mais normal do mundo!
Fiquei boba com tamanha tranquilidade sacizeira! Não estavam nem aí pros não Sacis!
– Quem usou tinta e não tampou e nem guardou?
– Eu é que não fui! Nem passei por aí. Tava era bem aquí!
Sacis quando se juntam, pulam sem cansar, conversam sem parar, inventam sem descansar…
Sacis enturmados, contam piadas na rádio, riem a toa, filosofam filmes e comem paçoca para falar de boca cheia!
– Quem foi que deixou os brinquedos esparramados?
– Foi nós não! Nem aí passamos. Estávamos era bem lá…
Sincronizados, Sacis saracoteam por cada canto da Vila Vilaboense!
Sacis africanos…
Sacis indígenas…
Sacis altos, magros, gordos, baixos…
Sacis altas, magras, gordas, baixas…
– Ei! Tá maluca? Não tem Saci menina não! Sacis são meninos!
– Pois aquí na Vila tem Saci menina sim!
– Confere aí: Saci Adri, Saci Liani, Saci Emi, Saci Zabili, Saci Luci, Saci Mari, Saci Reni, Saci Rosingi, Saci Reniti…
– Tem um tanto de meninas ensacizadas, tá ligado?
Falaram as Sacis empoderadas de tranças que sambavam em saias soltas coloridas!
– Quem comeu sanduba de banana e não jogou a casca no lixo?
– Sei não! Acabo de chegar aquí. Saí bem dali…
De repente a Vila se pintou de silêncio.
Só se ouvia o som da chuva lavando as folhas…
– Ei, cadê a Sacizada baguncenta?
– Onde se enfiaram os Sacis serelepes?
Do outro lado da peneira, vozes sacizeiras vindas do alto da gaiola camioneira, sinalizaram:
– Estamos no Mandrongo Caminhão! Partiu no vento! Partiu zoeira!
Mandrongo buzinou, arrancou e levou mais de cinco dúzias de vermelhos gorros balançando em cabeças sorridentes!
Partiu levando traquinagens no vento de lenta velocidade!
Na semana seguinte só tinha crianças na Vila… Sem esperanças de Sacis…
Nada de Sacis… Nadica de nada! Tinha nem suspiros de Sacis, tava até sem graça…
– Ei! Quem deixou lápis espalhados no chão?
– Sabemos não! Estávamos bem longe ali! Chegamos agorinha aqui…
Não tinha mais Sacis na Vila. Só crianças!
Só crianças com seus gorros vermelhos invisíveis…
– Gorros vermelhos invisíveis? Como assim?
– Não sei! Só sei que não tem mais Sacis. Melhor assim! Sacis são muito barulhentos…
Disse o Saci Eli… Ops! Digo, o menino Elivan…

PS. Dedico este conto para as crianças e educadoras/es da Vila Esperança da Cidade de Goiás, que se transformam em Sacis uma vez por ano… ou quando for preciso…

Diane

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